Pai e
filho.
Estiquei minhas pernas por
aquele lençol áspero igual a uma lixa. Hoje é meu primeiro dia na maravilhosa
Academia para Jovens Super-Dotados Baby Terry. Que porcaria de nome ridículo.
Que lugar horrível. Eu não entendo o porque eu estou aqui? Eu sou uma aluna
abaixo da média. Quase fui reprovada ano passado em Matemática porque eu
simplesmente não entendo o complexo de donzela indefesa que esse bendito X tem,
que toda hora precisamos achá-lo. Ahh, por favor! Eu não sou nenhuma gênia em
porcaria nenhuma. Eu passo 24 horas do meu dia no computador ou mandando
mensagens de texto.
Mas não há mais volta.
Estou presa nesse inferno chamado de escola. Não, espera aí. Academia para
Jovens Super-Dotados. Um grunhido foge de minha garganta e eu me levanto da
cama, as 06h00 da manhã, por que minhas aulas começam em uma hora. Que lugar
terrível.
Tomo meu banho bem
lentamente, tentando me livrar do frio que penetra em até meus ossos e reflito
sobre o que eu sinto. Raiva é a mais forte das emoções. Mas existe uma pouco de
perplexidade no fundo. Com uma pitadinha de desejo assassino.
Saio do banheiro com a
toalha enrolada em meu corpo e com nojo observo meu uniforme. Saia de prega
azul índigo. Camiseta de botões branca. Gravata da mesma cor da saia, assim
como o blazer. Meias ¾ brancas, que era a única parte do uniforme que me
agradava. E sapatos baixos, estilo boneca, pretos.
Visto o uniforme e olho
para o espelho. Estou parecendo àquelas garotas de colégios internos da
Inglaterra, mas não no bom sentido. Eu passo as mãos por sobre as pregas da
saia e suspiro. Vamos enfrentar o primeiro dia.
Os corredores estão lotados
de crianças e adolescentes indo de um lado para o outro. Eu olho confusa para
todos eles. Para que lado era mesmo o refeitório? Eu devia ter prestado mais
atenção naquela maldita tour que eu tive ontem à noite.
Eu pego um fluxo no
corredor que chega a me arrastar. Eu não sei para onde estou indo, mas eu
continuo seguindo. Sempre seguindo. Até, que magicamente, eu descubro que o
fluxo que eu peguei era o certo. Eu estou no refeitório. Tenho certeza que fui
guiada pela fome que grita em meu estomago.
Entro na fila para pegar o
café da manhã e o cheiro de pão saído do forno, café fresco e bolo me acertam
em cheio. Eu pego a bandeja e espero minha vez, que não ira tardar a chegar.
Quando chega, eu pego de tudo um pouco. O que é muito até. Em minha bandeja há
uma xícara de café; uma batia de bolo de chocolate que esta com uma cara linda;
pão, um potinho com margarina, e algumas fatias de presunto; uma tigela de
cereal matinal e para fechar com chave de ouro, senhora e senhores, torta de
banana. Eu amo torta de banana.
Sigo com minha bandeja até
uma mesa no canto. Eu sou nova ali, sei meu lugar. Não vou tentar me sentar em
nenhuma mesa que não é do meu grupo. Como meu café da manhã sem preocupações,
sabendo que ainda tenho meia hora antes das aulas. Assim que termino meu café
da manhã, eu levo minha bandeja para o lugar das bandejas. Não sei como chama
mesmo.
Agora, eu tenho um novo
desafio. Achar a secretaria, receber meus materiais e seguir para a sala de
aula. Ando por mais ou menos, uns cinco minutos, até que acho a secretaria. A
secretaria me mede e logo vem me atender.
- Pois não? – ela diz e eu
a olho, incrédula.
Eu estive com ela ontem
mesmo, no tour.
- Oi, não ta me
reconhecendo? – pergunto e a mulher roda os olhos.
- Muitas pessoas passam por
aqui. – ela diz. – Não marco rostos.
Eu assinto. Estranho, muito
estranho.
- Certo, - começo – vim pegar
meus materiais. Cheguei aqui ontem. White O’Sean. A menina que você levou para
fazer o tour na escola ontem à noite. – ela me encara com tédio.
A mulher se vira e entra de
novo na secretaria. Eu a olho, sem entender. O que diabos acabou de acontecer?
Ela volta com uma mochila preta com o emblema da escola, que é um cavalo
apoiado nas patas traseiras e duas armas, daquele tipo velho, não lembro o
nome, ambas cruzas por trás do cavalo. Malditos texanos e suas manias com armas
e cavalos. A mulher me entrega a mochila e junto dela, um papel.
- Aí está o material e o
seu horário. – ela me lança um sorriso maldoso. – Boa sorte. É, você vai
precisar, White. – ela dá de ombros e volta para dentro.
O que acabou de acontecer?
Não sei. Olho para o horário e vejo. Primeira aula. Certo, isso é bem texano.
Tenho aula de equitação. Minha primeira aula é equitação. Eu nunca cheguei
perto de um cavalo na minha vida inteira. Respiro fundo. Esse dia vai passar
rápido. Bem rápido, eu desejo.
Eu caminho pra fora da
escola e olho para os lados. Tudo que há para se ver é mato. Estamos no Texas,
eu não podia esperar por mais nada. Sigo até onde – eu acho – é o lugar onde
ficam os cavalos. Entro lá, tentando ser silenciosa. Mas eu sou uma garota
nascida e criada em Nova York, não sou silenciosa. Sem querer derrubo um balde
do chão, que faz o maior estardalhaço. Abaixo-me para pegar e quando eu me
levanto novamente, um grupo de alunos, me encara. Eu dou um sorriso tímido e
coloco o balde onde ele estava.
- Certo – disse o homem na
frente da dos alunos. Ele tem mais ou menos, uns vinte anos, cabelos pretos,
olhos pretos e veste uma roupa de equitação. – quem é você? – ele pergunta.
- Sou White O’Sean. – eu
digo, como se todo mundo soubesse. – Cheguei ontem.
- Você sabe que entrou no
meio do ano letivo, certo? – eu assinto – Vai ser difícil acompanhar.
- Eu sei... – eu digo com a
voz meia falhando. Ahh, inferno! Minha garganta vai começar a brincar com a
minha cara de novo?
- Então está bem. – ele
diz. – White, venha cá. – ele faz um sinal para eu me aproximar e eu me
aproximo. – Hoje é seu primeiro dia, então você não vai precisar montar. – eu
solto o ar que não sabia que segurava.
Uma onda de alivio passa
por meu corpo. Sem cavalos. Sem montaria. Bem, era só essa aula. Mas já era
alguma coisa.
- Okey! – eu exclamo e ele
sorri.
- Ahh, antes que eu me
esqueça, sou o professor Roger Coham. – ele diz e me aponta um banco no canto.
Eu vou me sentar e vejo os outros alunos selarem os cavalos.
A aula começa e o professor
Roger e os outros alunos saem com eles. E agora? O que eu faço? Abro a mochila
e vou inspecionar o que me veio de material. Tem seis cadernos com as capas
azuis índigo e com o emblema da escola. Um estojo também azul índigo, abro o
estojo e descuro que há duas canetas vermelhas, duas pretas e duas vermelhas,
dois lápis, duas borrachas e só. Olho mais profundamente na mochila e havia há
duas coisas que realmente me deixaram com a pulga atrás da orelha. Uma, era um
pequeno aparelhinho preto que parecia um celular, mas não era disso eu tinha
certeza. E a outra, era um molho de chaves. Certo? Essa escola é bem estranha.
Eu pego um dos cadernos e
começo a rabiscar coisas sem sentido. Palavras aléias e a fazer pequenos
desenhos maldosos com o emblema da escola. Eu sou uma boa desenhista, disso eu
tenho certeza.
Ouço o barulho dos cavalos
e olho para a porta, esperando os ver voltando. E eles estão voltando. Foi até
rápido. Todos os alunos se sentam no mesmo banco que eu. Todos eles vestem
uniforme de equitação. O que é constrangedor, pois eu uso o da escola. O professor
Roger para na nossa frente e começa a falar um monte de coisas que eu não
consigo entender. São termos de equitação. Eu tento, inutilmente, anotá-los. E
então, a aula esta terminada. Eu me levanto para sair da aula e ouço meu nome
ser chamado.
- White? – eu me viro e
vejo o professor Roger me chamando. Eu vou até ele.
A mochila em minhas costas
pesa. Eu sorrio para ele e ele retribui.
- O que foi, professor? –
eu pergunto.
- Você sabe que terá que se
esforçar em dobro, não sabe? – claro que eu sei, querido professor.
- Sim. – respondo
simplesmente.
- Ótimo! – ele bate uma mão
na outra, o que me pega de surpresa e faz com que eu de um pequeno pulo por
causa do susto. – Nos vemos na última aula! – ele se vira e eu encaro meu
horário.
Minha primeira e última
aula é equitação! Ótimo!
Saio dali, e volto pra o
prédio principal. Olho para meu horário e vejo que minha próxima aula é
Matemática. Okey, isso é ótimo!, o
sarcasmo corre em minhas veias, o que posso fazer? Ando pelos corredores,
totalmente perdida. Preciso achar o Laboratório de Matemática, bem rapidinho,
não quero parecer uma idiota chegando tarde em minhas aulas. Estou tão indo tão
rápido pelos corredores que nem percebo que esbarrei em alguém, até essa pessoa
segurar meu braço e me girar a toda velocidade. Olho para a pessoa que me
segura e vejo uma garota. Ela tem os cabelos bem lisos, castanhos escuros e uma
franja cortada reta. Percebo que ela tem os olhos puxados, como uma oriental.
Ela veste o uniforme da Academia, mas estranhamente, fica maravilhoso nela. Ela
masca um chiclete freneticamente.
- Hey! – ela exclama. –
Você não olha por onde anda?
- Me desculpe – eu respondo
– estou perdida, é meu primeiro dia aqui. – ela roda os olhos.
- Qual é sua aula? – ela
pergunta.
- Matemática.
- Quarta porta a direita,
novata. – ela arqueia as sobrancelhas.
- Obrigada! – eu digo
baixinho e sigo em frente.
Olha para a sala que é a
quarta porta a direita. É uma grande porta de madeira que estava entreaberta.
Entro na sala, que não estava muito cheia, e pego um lugar no fundo da sala. Ao
meu lado, se senta uma menina de cabelos cacheados e com um óculos de armação
grossa e preta. O uniforme nela parece algo totalmente desengonçado e bizarro. Ela
põe um cacho fujão pra trás da orelha e sorri para mim.
- Você é nova aqui,
certo? - ela pergunta.
- Sim. – eu respondo
balançando a cabeça. – Primeiro dia.
- Eu sou Annie Amphion. –
ela estende a mão para mim e eu a aperto.
- White O’Sean. – ela
assente.
O professor entra na sala e
eu já quero me jogar da janela. Ele é um senhor, que parece ter uns 90 anos de
idade, que anda tão devagar que uma tartaruga consegue ser mais rápida do que
ele. Ele para na frente da lousa e olha diretamente para mim.
- Você! – ele aponta para
mim e eu me encolho. – É nova aqui? – eu assinto. – Como é seu nome?
- White O’Sean. – eu digo.
Já estou cansada de dizer meu nome por hoje.
- Eu sou o professor Christian
Hillman. – eu assinto.
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